Por: Klever Kolberg ligado: janeiro 07, 2010 Em: Rally Dakar Comentários: 0

Uma equipe não é formada só por pilotos, navegadores e mecânicos. Para que o público saiba o que acontece durante uma competição, temos uma enxuta estrutura de imprensa. O jornalista Lino Bocchini foi nosso correspondente no Dakar 2007. Quando foi convidado, mal ele sabia o que viria pela frente. Aqui, ele nos conta como é a vida de um repórter no Dakar:

A primeira noite no deserto marroquino ninguém esquece. Se você conseguir dormir numa barraca armada naquele tapete de pedras pontudas, com zero grau lá fora, parabéns, você dorme até no inferno. No meu caso, beduíno de primeira viagem, fui despertado antes do amanhecer por um funcionário do staff que chacoalhava minha barraca e berrava alguma coisa em francês. Eu estava simplesmente na área de manobra dos aviões, e a asa de um deles passava a menos de dois metros da minha cabeça. No Rally Dakar, os jornalistas seguem todos juntos em um mesmo avião, que desloca-se de cidade em cidade enquanto os pilotos aceleram lá embaixo. Levamos dezenas de quilos de tralhas, e dormimos onde dá, em barracas armadas à volta da pista onde os 20 aviões que compõem o circo da prova pousam e decolam o tempo todo.

Só esse monta-e-desmonta e o desconforto de ser despertado toda manhã por turbinas de avião antes do amanhecer, por 20 dias seguidos, já seria duro. Mas isso não é o pior. No caso da nossa equipe, a estrutura de imprensa era composta por um bravo integrante –nem queiram saber quanto custa um credenciamento desses. Enquanto jornalistas europeus acompanhavam calmamente os resultados e entrevistas e faziam dois ou três boletins diários, eu tinha que fazer boletins diários para diversas rádios, escrever pelo menos cinco textos por etapa, tirar fotos, postar em meu blog sobre os bastidores e ainda dar uma filmadinha. E depois, claro, enviar tudo pro Brasil.

Eram jornadas de trabalho sempre superiores a 12 horas. E, no “tempo livre”, uma batalha para comer, montar e desmontar acampamento, tomar banho –quando desse–, fazer as necessidades e ainda rezar para que toda aquela parafernália eletrônica funcionasse direitinho. Sim, porque eu fazia boletins ao vivo em meio ao Saara Ocidental.

Mas, verdade seja dita, tive poucos problemas técnicos. Em um deles, quando fui obrigado a usar a estrutura da organização, paguei a mais cara “lan house” do mundo. Meia hora de Internet no descampado do Mali para transmitir textos e duas fotos custou 600 euros.

Dormi mal três semanas seguidas, me estressei com aquela salada de aparelhos via satélite, quase morri louco para atender todas as demandas do Brasil e dos pilotos e, de quebra, passei 20 dias sem ver uma privada normal. Aliás, quase chorei de emoção ao entrar no banheiro ocidental e limpinho do quarto do meu hotel, chegando a Dakar. Enfim, um rali de mídia, paralelo ao rali de verdade. E pensar que isso não é nada perto do que passam os pilotos…

por Lino Bocchini – Jornalista

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