Por: Klever Kolberg ligado: janeiro 09, 2010 Em: Rally Dakar Comentários: 0

Mesmo depois de três problemas de gente grande vividos nos primeiros sete dias de prova (narrados nas colunas anteriores), nada como conseguir chegar ao acampamento no dia de repouso. No Dakar 2007, o dia no qual a prova dá uma folga para pilotos e navegadores foi na cidade de Atar, na Mauritânia. Chegamos com muito serviço para ser executado pelos mecânicos. Era preciso deixar o carro em ordem para que pudéssemos correr atrás de parte do tempo perdido na primeira metade do rali e chegar a Dakar. Eles trabalharam duro, dia e noite sem parar, até a hora da largada na manhã seguinte. Pensamento positivo. Depois de tantos infortúnios, nossa sorte precisava mudar.

A etapa começava com um cordão de 20 quilômetros de dunas de areia fofa. Logo nos primeiros minutos de prova, era possível ver uma porção de carros e caminhões atolados em todas as direções. O visual era assustador. A cada duna vencida, mais máquinas apareciam sugadas pela areia. Deixando vários competidores para trás, progredíamos num bom ritmo. Nos metros finais do trecho de dunas, elas se fundiam com uma montanha, formando um funil com os veículos que haviam conseguido chegar até ali (entre eles, o nosso) e com muitos outros atolados até a porta. Alcançar o solo duro da montanha era o desejo de todos ali.

O trecho era muito técnico. Além de superar as armadilhas da areia e das dunas, era preciso “escalar” a íngreme parede da montanha. Não era possível vencê-la sem embalo, ficando encalhados no engarrafamento. Achamos ter visto uma alternativa à esquerda. À esquerda? À esquerda. Poucos segundos depois, a tal saída à esquerda se mostrou precipitada. Atolamos na intransponível areia branca, a mais fofa do deserto. Dizem que apenas camelos conseguem deixá-las para trás sem grandes sofrimentos. Parecia haver um ímã escondido no solo. A cada dois, três metros percorridos, uma atolada. Cheguei a perguntar para o Eduardo Bampi, meu navegador, se o famoso Murphy estava sentado no banco de trás. Mas ali, qualquer caminho parecia regido pela lei segundo a qual se algo pode dar errado, dará.

Para superar 200 metros, perdemos quase três horas! Pouco mais de um metro por minuto! Valeu a persistência. Triunfamos. A partir dali, nossa história no Dakar mudou. Sem milagres, mas sem empecilhos mecânicos, recuperamos posições e conseguimos receber a almejada bandeirada no Lago Rosa, palco tradicional da última etapa da prova.

O piloto de rali Klever Kolberg, que participou 21 vezes do Dakar, dez de moto, 11 de carro e uma como chefe de equipe. Ele escreve a partir de hoje artigos exclusivos sobre os bastidores da maior e mais difícil competição off road do mundo. A 31ª edição da prova começa no dia 1 de janeiro de 2010 em Buenos Aires e chega na mesma cidade no dia 17.

Comandado por Klever Kolberg (piloto) e Giovanni Godoi (navegador) no Rally Dakar 2010, o Valtra Dakar Eco Team é patrocinado por Valtra, BASF, Mitsubishi, Cosan, Unica, Pirelli, Fremax e Magneti Marelli, e apoiado por Artfix, Sparco e Waiver.

Por Klever Kolberg

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