22out
Por: Klever Kolberg ligado: outubro 22, 2020 Em: Jobs, Palestras Comentários: 0

A possibilidade de viajar no tempo é um antigo desejo do ser humano. Quem não gostaria de voltar ao passado, rever uma pessoa querida, presenciar um momento importante. Ou quem sabe ir para o futuro?

Klever Kolberg conta esta história

Eu adorava a série da TV, na década de 1970, “O Túnel do Tempo”, com as aventuras de dois cientistas. Depois veio o clássico “De Volta ao Futuro”. Talvez sem que tenhamos percebido, todos já tivemos nossas reais experiências, quando a tecnologia subitamente nos deixa na mão, voltando no tempo.

Rally Paris-Cidade do Cabo

Uma eu não vou esquecer tão cedo. Foi no Rally Paris-Cidade do Cabo. A edição de 1992 do Dakar foi marcada por um roteiro inédito, que evitar conflitos, e portanto, a passagem pela Argélia, Mauritânia e Mali. Foram 12.500 km e cruzamos 10 países.

Primeiro GPS

Também essa foi a primeira vez que era permitida a utilização do GPS, na época o máximo em tecnologia de navegação. Porém, acho importante esclarecer, antes de continuar esta história, que os primeiros aparelhos de GPS eram bastante limitados se comparados aos APPs que qualquer smart phone nos fornece atualmente.

Primeiro, ele tinha as dimensões de um toca-fitas de gaveta. Quem tinha carro na década de 80, sabe do que estou falando. Era comum ver pessoas segurando aquele trambolho na mão para evitar furtos. Quando ele estava no painel do carro, era indispensável, mas onde colocar isso numa moto? No guidão! Infelizmente não tenho fotos da adaptação que fizemos. Ficou algo desajeitado, desproporcional.

Segundo, ele era completamente analógico, tinha uma tela minúscula que só mostrava números e letras. Pensa na tela de um relógio G-Shok.

Terceiro, como qualquer CPD da época, ele precisava ser alimentado com os dados, a latitude e longitude do ponto para o qual você gostaria de se dirigir. Bem diferente dos dias de hoje. Então ainda era necessário ler os mapas russos, os únicos disponíveis na época com algumas informações sobre o Saara.

Como a velocidade de processamento era muito mais lenta do que os atuais, e também menor a quantidade de satélites que orbitam a terra, era comum ele perder sinal e demorar a voltar.

GPX x Bússola

Para quem até aquele momento contava apenas com a bússola magnética para se localizar e navegar no deserto africano, era uma transformação, muito mais do que transformar água em vinho.

Era tão fantástico que para contar a verdade, no início eu nem acreditava que aquilo funcionava.

Então, resumindo a história, nos primeiros dias de prova eu fui fazendo testes, e cada vez gostando mais daquela magnífica novidade tecnológica.

Tempestade de areia

No segundo dia de deserto na Líbia, começou uma tempestade de areia, que resolveu nos acompanhar durante quatro dias. Se já é difícil navegar no deserto, com tempestade de areia é apavorante.

Mas o GPS estava cumprindo o que prometia, faça chuva ou faça sol, de tal forma que aos poucos eu fui me sentindo mais à vontade para confiar naquele aparelho. Sem ele, a navegação é feita com as poucas referencias visuais, que na tempestade de areia literalmente desaparecem.

No quarto dia de vento soprando, já estávamos no Níger, rumo ao Chad. No meio da tarde, quando faltavam cerca de 120 km para chegar ao acampamento de destino, olhei para meu painel para conferir o rumo e o GPS havia apagado. Minha mãe, nem filme de terror assusta tanto. Inegavelmente, eu estava no meio do nada, sem rastros. Logo atrás vinha o português Pedro Amado, que tinha pouca experiência em navegação e não contava com um GPS. Ele estava seguindo meus rastros.

Medo

Paramos, muito assustados. Tentando manter o controle emocional fui ver se havia alguma falha de energia, ou se descobria o problema, mas não encontrei a solução. Pior, com o vento, nossos rastros já haviam desaparecido. Ou seja, não sabia como voltar, como ir para frente, muito menos em que ponto do mapa eu estava para decidir o que fazer.

Alternativas

Uma alternativa seria ficar parado, e contar com a sorte. Vai que aparece alguém. Mas a chance disto acontecer deveria ser de um em um milhão.

Também poderia acionar o sinal de socorro para a organização, que também significa desistir da prova. Mas com tempestade de areia, não são realizadas buscas ou resgates. Então poderíamos ficar dias naquele lugar.

Viajar no Tempo

O Pedro Amado me perguntou, o que nós vamos fazer. E eu tirei do bolso uma bússola magnética de mão, que o Amyr Klink havia me ensinado a utilizar, e respondi para ele. “Vamos fazer como os navegadores portugueses em 1500, navegar apenas com a bússola. Inicialmente o Pedro não acreditou, afinal, era uma uma verdadeira viagem no tempo. Segundos antes utilizava a navegação por satélite, segundos depois apenas uma bússola, como um descobridor.

Repito, eu não fazia a menor ideia de onde estávamos, então nem adiantava olhar os mapas. Tinha apenas uma informação, o último rumo do GPS, rumo sul, 178 graus.

Maratona

A sequência foi uma verdadeira maratona. Devido a tempestade de areia, eu não conseguia estabelecer referencias. O terreno era acidentado, então fica quase impossível andar em linha reta, tentando estabelecer o rumo. Então era forçado a parar a cada 300 metros. Nossos rastros logo se apagavam. Parava, conferia o rumo na bússola e seguia mais alguns metros em frente. Foram quase seis horas sem nenhuma informação ou confirmação, sem saber se estávamos no rumo correto.

Anoiteceu e após muitos quilômetros na escuridão, finalmente avistamos a iluminação do acampamento.

O Pedro Amado, que não era o Álvares Cabral, estava tão feliz, que veio me abraçar, e gritou, que português navegador coisa nenhuma, brasileiro é que é navegador.

YouTube

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